sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Crônicas Cinzentas - A taverna de Carvalho Rubro [Parte Final]

Esse é o capítulo final do conto "A taverna do Carvalho Rubro". Parte integrantes das "Crônicas Cinzentas". Uma série baseada em uma aventura de D&D que tive o privilégio de narrar.

Agradeço a todos que acompanharam essa aventura. Trabalhei para dar a devida grandeza do combate nesta narrativa. Espero que gostem!



Continuação...


Dudu, que voltava a si, percebeu o que estava para acontecer e sentiu novamente um lampejo de coragem brotando em seu íntimo. Levantou rapidamente, apanhou uma das cadeiras que estão próximas dele e correu pelas costas de Blake, golpeando-o próximo a nuca.

O impacto fez com que a cadeira ficasse em pedaços e Blake caísse de joelhos, contudo não fora o suficiente para pará-lo. O mercenário se levantou e chutou Dudu, arremessando o bardo sobre as cadeiras próximas ao palco onde tocava, depois continuou em direção de Nina.

A feiticeira, concentrada em Erick, não percebeu que seria golpeada pelas costas e novamente, retirando alguns itens de sua pequena bolsa, repetiu os movimentos característicos, lançando outro projétil de luminoso em direção de seu alvo. Erick confuso e amedrontado tentou fugir, porém foi atingido pelas costas e uma dor muito forte consumiu suas forças, derrubando-o no chão.

Gwain pode ver de longe o esforço da meio-elfo para impedir que aquele mercenário continuasse a disparar projéteis em sua direção, se ela não intervisse ele teria sucumbido. Pode ver Blake se aproximando para acertar a feiticeira pelas costas, deixando-a sem chances para se defender. Ela seria morta ali, depois de salvar o elfo.

Assim, em um esforço quase sobrenatural, Gwain puxou uma adaga que prendia em sua bota e concentrou-se por um segundo em seu alvo. Podia sentir sua respiração, cada som daquele lugar, todos pareciam se mover mais lentamente agora.

“ ...preciso de mais tempo...”


E por mais um longo segundo ele apenas fitou a cena. Blake estava a menos de meio metro de Nina. Ela podia sentir sua presença, mas era tarde demais para agir. Dudu que estava no canto da sala, esboçava um grito, mas sua voz não saía. A adaga do perdigueiro já estava sendo impulsionada contra as costas da feiticeira... Não havia como sobreviver.

Nesse momento, prendendo a respiração e ignorando toda a dor que sentia Gwain, o ranger elfo, disparou sua adaga na direção de Blake. Girando rápido e firme, a adaga elfica com cabo de carvalho, cruzou a taverna, quase seis metros até acertar seu alvo. O menor erro de calculo poderia acertar a própria Nina, mas não foi o que aconteceu. A adaga atingiu o orifício do ouvido, rasgando os tecidos que encontrou, rachando o crânio de Blake e finalmente, derrubando-o.

O corpo inerte do líder dos Perdigueiros do Deserto, caiu sobre a feiticeira, coberto de sangue. Abafado pelo grito de Dudu, que somente agora fora proferido.

- Cuidadoooo Ninaaaa!

O impacto fora tão repentino que ela levou alguns instantes para perceber que seu algoz já estava morto. Ainda se debateu por alguns segundos, até acreditar realmente que ela estava viva e aqueles “bandidos”, não. Dudu, com a testa ainda sangrando e inchada, conseguiu levantar-se mesmo que mancando e foi até sua amiga feiticeira, que também estava coberta de ematomas.

- Vamos embora daqui. Rápido!

E ela concordou imediatamente, mas não sem antes pegar seu salvador.

- Vamos conosco. Não está seguro aqui. Não assim.

Gwain, ainda com muita dor, tentou negar, mas acabou aceitando a ajuda. Assim os três saíram juntos da Taverna do Carvalho Rubro. Feridos mais com vida. Ainda naquela noite, deixaram da cidade, pegando carona, escondidos na carroça de um mercador de legumes.

- Não há sossego para quem anda comigo. Devem me deixar na floresta, se quiserem viver em paz.

As palavras do elfo foram recebidas com um sorriso por Nina e Dudu, que tentavam cuidar de seus ferimentos.

- Não sei se notou nobre amigo, mas também não somos bem vindos em muitos lugares. A propósito meu nome é Dudu, o Bardo. Essa é Nina a meio-elfo e...

Antes que Dudu pudesse completar o ranger se antecipou.

- Feiticeira... É, eu notei. - o diálogo é interrompido por um gemido, quando Dudu retira o virote da perna do elfo - Meu nome é Gwain, Ranger da Floresta. Protetor da vida selvagem e inimigo dos homens... - Fitado por Dudu por um segundo após aquela frase, o elfo completa - ...ao menos de uma boa parte deles, mas com certeza, não de você Dudu.


Seja pelas semelhanças de ideais, pelas dificuldades em comum ou simplesmente pelo destino, um laço de amizade acabou unindo esse três seres tão distintos. Que viveriam diversas aventuras, daquele dia em diante.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Crônicas Cinzentas - A taverna de Carvalho Rubro [Parte 03]

O conto deveria ter seu final neste post, contudo achei necessário colocar mais detalhes no último capítulo. Assim ele ficou um pouco grande e tive de dividi-lo em dois, mas acredito que valeu a pena. Espero que gostem.

Continuação...

Blake segurava o braço direito, que agora possuía uma flecha atravessando-o um palmo acima do punho. O sangue escorria pela ponta de madeira, formando já uma pequena poça no chão. Em meio aos urros, Blake gritou com os "perdigueiros" com um olhar furioso, enquanto estes pareciam chocados com a cena.

- O que estão esperando? Acabem com este maldito de orelhas pontudas!

O brado sonoro ecoou pelo salão, assustando os demais espectadores e fazendo a maioria correr da taverna.

O primeiro dos mercenários a fazer menção a sacar a arma foi Ulf. E ele foi alvejado por uma flecha certeira no pescoço, fazendo-o cair imediatamente e contorcer-se até sufocar.

Enquanto o elfo, rapidamente sacava uma nova flecha da aljava para posicionar em seu arco, dois mercenários, Mok e Lyn, viraram um das mesas, fazendo uma espécie de barricada e esconderam-se atrás dela. O quarto mercenário, Erick, armava um tipo de besta, para disparar contra o elfo. E o ultimo, Hassan, partiu em uma investida puxando duas adagas, enquanto corria.

A investida de Hassan fora um sucesso, ou quase. Rapidamente ele correu até Gwain, saltando por uma cadeira e deferindo um golpe mortal, com sua adaga curvada, de aço oriental. Contudo, ainda mais rápido, o elfo saltou por sobre a mesa, girando lateralmente no ar e escapando quase que totalmente do golpe, sofrendo apenas um corte superficial no peito. Assim que seus pés tocaram o chão, inclinou seu corpo para trás, conseguindo a distância necessária para disparar sua flecha. Esta teve endereço certo, o peito do mercenário, que caiu inerte no chão após o impacto.

Antes que pudesse comemorar ou avaliar o próximo alvo, um virote de besta cravou na coxa esquerda do ranger. Erick, o mercenário que empunhava um besta leve, fora preciso em seu tiro e já preparava sua arma para um novo disparo.

Mok, um dos mercenários que estava atrás da mesa tombada, notando que o elfo estava distraído, desembainhou sua espada longa e partiu em um investida direta. A lâmina reluzia o tremular das chamas das velas do grande castiçal que pairava sobre eles no teto da taverna. Sem ter tempo e preparar o arco para um novo tiro, Gwain deu um passo para o lado e golpeou uma mesa menor, com a perna direita, atirando-a entre o joelho e a canela de Mok, fazendo cair sobre algumas cadeiras. O movimento funcionou tão bem, que o mercenário deixou sua espada cair durante a queda.

O elfo, porém, sofreu com a dor de ter se apoiado sobre a perna que tinha um virote cravado. E só não piorou sua situação, porque a dor obrigou-o a agachar-se, fazendo com que um novo virote disparado por Erick passasse apenas de raspão, junto a seu braço direito.

Enquanto o combate acontecia, Blake tomado por uma fúria insana, devido à dor causada pelo ferimento e pelo calor da batalha, quebrou a ponta da flecha que o atingira outrora e arranco-a de seu braço, fazendo um jato de sangue espirrar, enquanto urrava ainda mais alto. Foi assustador.

No canto do palco improvisado, ainda meio tonto, Dudu recobrava a consciência e tentava entender o que estava acontecendo. Ele estava atrás de Blake, mais ainda estava confuso demais para agir.

Lyn observou a investida frustrada de Mok, mas quando viu o elfo cair, decidiu que era hora de atacar também. Nina que estava caída, logo atrás de Lyn, percebeu a reação do mercenário que sacava sua espada. Instintivamente, colocou a mão em uma pequena sacola que carregava a “tira colo”, tirando algo lá de dentro. Em seguida, movimentou as mãos em frente ao rosto levemente, fazendo com que um brilho avermelhado, quase laranja, fosse emanado por elas. Quando o mercenário se levantou, Nina proferiu algumas palavras e esticou-se, tocando-o no tornozelo.

Lyn ignorou a meio-elfo, partindo para sua investida, mas quando impulsionou seu corpo com força para frente, para levantar sua espada longa, foi acometido por um mal súbito e caiu inerte. Era como se tivesse corrido no deserto por dias e estivesse tão cansado que não podia sequer levantar-se. A feiticeira usara, pela primeira vez, um antigo feitiço conhecido como o "Toque da Fadiga". Feitiço este que viria a usar muitas vezes em suas aventuras posteriormente.

Enquanto Mok se desvencilhava das cadeiras e tentava pegar sua espada para efetuar seu ataque, ainda deitado, o elfo impulsiona o corpo para trás com a perna que ainda estava sadia, aprontando o arco para um novo disparo e acertando novamente. Mok esticava o braço para apanhar a espada e a flecha o atravessou, na altura no bíceps. A dor fizera o guerreiro mercenário cair.

Ao mesmo tempo em que Mok caía, um novo virote, disparado por Erick acertava o elfo. Dessa vez, o ombro direito foi o alvo. O projétil veio zumbindo até atingir seu algo, um pouco abaixo da clavícula. Isso para um arqueiro significa fim do combate e naquele caso, para Gwain, possivelmente o fim de sua vida.

Nina levantou-se rapidamente e pode ver o elfo sendo atingido, quase mortalmente. Enquanto o mercenário engatilhava o que poderia ser o último virote para finalmente matar aquele estranho que salvara, pelo menos por enquanto, ela e seu amigo Dudu, a meio-elfo pôs as mãos rapidamente na sacola, puxando algo que só ela saberia o que viria a ser.

Com frieza e graciosidade, levantou uma as pernas, movimentado para frente e para trás, no que parecia mais ser um passo de dança. Estendeu o braço e balançou, fazendo um movimento de pêndulo, que quando atingiu a altura de sua cabeça, emanou uma luz mais forte que a anterior, branca e meio azulada. Ent]ao, após algumas palavras, um projétil luminoso saiu da ponta de seus dedos, indo na direção de seu inimigo, atingindo-o em cheio e fazendo-o deixar o virote cair.

Olhando para aquela cena, incrédulo, Blake marchou em direção da meio-elfo, ainda mais furioso. O braço estava coberto de sangue e não podia empunhar sua espada novamente, contudo, retirou uma adaga da bota com a outra mão e partiu para cima de Nina.


A parte final deste conto será publicada ainda nesta semana. Não percam!