segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Crônicas Cinzentas - A taverna de Carvalho Rubro [Parte 01]



Como era de se imaginar, Dudu e a meio-elfo Nina continuavam com suas apresentações por pequenos vilarejos do reino da Rocha Branca. A amizade e a cumplicidade entre os dois aumentava cada vez mais. Depois de dois meses, tudo de ruim que havia acontecido já estava no passado. O bardo e a feiticeira dançarina conseguiam um bom dinheiro com suas apresentações, toda a noite conquistando fama e atraindo a atenção de todos. Com o passar do tempo isso acabou sendo definitivo para o que ocorrera.

O sucesso fez com que Dudu fosse convidado para fazer uma apresentação na taverna da Vila do Carvalho Rubro, ao sul de Pedra Cortada. Seria o mais perto que chegara da cidade onde se encontraram pela primeira vez. Ele hesitou inicialmente, uma vez que achava arriscado apresentar-se naquele local. Contudo, foi persuadido por uma quantia considerável que lhe era oferecida pelo dono daquela taverna, algo pouco comum naqueles dias e encorajado pela própria meio-elfo.

- O que poderia acontecer conosco? – dizia Nina – Se ainda estivessem atrás de mim, já teriam nos encontrado.

O bardo sabia que meio-elfos não eram bem-vindos nas cidades próximas da capital. Algumas pessoas acreditavam que foram os mestiços que causaram a ruína e a decadência de seu reino, repetindo a palavras do antigo rei. Isso, por si só, já deveria ser o suficiente para impedi-lo de ir até lá acompanhado de alguém como Nina. Além de, é claro, a origem da meio-elfo se um mistério e seu único passado conhecido dela ser um cativeiro. Contudo, ainda assim ele o fez, afinal, prudência nunca foi uma qualidade de bardos.

Os dois partiram quando ainda era bem cedo, assim chegariam em seu destino pouco depois da metade do dia, isso evitou perguntas e muitos olhos curiosos. Uma feira muito frequentada, era o que movimentava o vilarejo para onde foram. Principalmente durante o festival da colheita, que era o maior evento daquela região e estava acontecendo naquela semana. Nada melhor do que um pouco de multidão para se passar despercebido.

A viajem foi tranquila. Conseguiram deslocar-se rapidamente, graças ao cavalo que Dudu comprara dias atrás, com parte do dinheiro que tinham ganho. A entrada no vilarejo também não gerou problemas. Um simples manear de cabeça foi o suficiente para que os guardas abrissem caminho. Parecia que toda aquela preocupação tinha sido exagerada.

Nina, no entanto, percebia os olhares de reprovação quando alguém que a fitava, principalmente os mais velhos, e reconheciam sua origem. Era como se vissem algo repugnante e ofensivo. Notoriamente, continham suas emoções e apenas esbravejavam. Em um local diferente a feiticeira seria alvo de ofensas, objetos seriam atirados nela e com certeza a situação não terminaria bem. Contudo a presença de raças amenizava um pouco os ânimos. Além de humanos, era comum ver por ali gnomos, criaturas até semelhantes aos elfos, mas bem menores, e anões, de pouca estatura, mas muito corpulentos.

Já na estalagem, o restante do dia até a apresentação, foi sem surpresas. Dali saíram somente para ir até a taverna, já no entardecer, para conversar com o taverneiro que concordou em adiantar somente dez porcento do combinado. O que restara pagaria no final da apresentação, o que parecia justo diante do elevado montante oferecido. Cinco peças de ouro é o que o bardo receberia por uma noite de apresentação. Fora o que coletaria com o famoso "chapéu de bardo". Estava pensando em sair dai, naquele dia, com talvez, sete, oito ou, com sorte, dez peças de ouro. Algo que poderia mantê-los por um bom tempo.

A taverna era simples porém bem decorada e poderia abrigar confortavelmente cinquenta pessoas. Tinha muita gente desde cedo, por conta do festival e o público aumentava ao cair da noite. Pequenas mesas rústicas e bancos feitos de tronco de carvalho era onde se acomodavam as pessoas que chegavam. Muita fartura nas mesas com cordeiros e leitões assados, milho e queijo. Tudo regado a muito vinho e hidromel. Conforme a noite caía, a dança das chamas de um enorme candelabro que ficava suspenso sobre o salão, deixava o ambiente ainda mais festivo. Aproximadamente oitenta velas, com suas chamas dançantes, apresentavam um espetáculo a parte.

A apresentação do bardo, começou um pouco turbulenta, devido ao ruído das quase noventa pessoas que se acotovelavam na taverna. Muito barulho de um público já um pouco embriagado, impediam que as primeiras canções do bardo pudessem ser ouvidas com atenção. Contudo, sem demora o bardo iniciou uma famosa canção, que falava sobre festas, mulheres e muitas bebida. Isso com certeza atraiu a atenção do público que acompanhou Dudu em meio a grunhidos e urros. Ao final, uma calorosa salva de palmas e algumas peças de cobre e prata mostraram que o público havia sido conquistado. Nina inicialmente se mantivera sentada, ao lado do pequeno palco improvisado.

Olhos curiosos fitavam Dudu e Nina o tempo todo. Algumas coisas parecem ser escritas pelo destino e não importa o caminho que se tome, o destino é o mesmo. Para o mal e para o bem, alguns eventos importantes que marcariam a caminhada dos dois aconteceriam ainda naquela noite.


[Continua...]

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