quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Crônicas Cinzentas - Fagorn, o Paladino [Parte 02]



Continuação...

Em uma noite, fria a chuvosa, Fagorn estava no celeiro, onde passava sempre muito tempo, sonhando com suas aventuras pelo mundo. Imaginava uma grande batalha nos confins da terra cinzenta, onde defendia a honra dos oprimidos com sua espada.

Enquanto disputava a peleja com seus inimigos imaginários, um estrondo o faz cair de um cavalete onde estava apoiado. Sua atenção foi direcionada no mesmo instante para a porta, mas manteve-se imóvel, atrás do monte de feno, onde caíra. Olhando fixamente para porta, levou um susto com uma nova batida que ocorrera. Claramente eram investidas contra a grande porta de carvalho, maciça, que mantinha o frio, a chuva e seja lá quem estivera tentando entrar, do lado de fora. Ainda imóvel, o jovem aprendiz estava atento.

Um terceiro e último estrondo, ainda mais forte que os dois primeiros ocorreram. Desta vez, fora o suficiente para arrebentar a tranca que segurava a porta. Um firme caibro que ficara disposto na horizontal e mantinha a entrada selada. O força foi tamanha que o fez estilhaçar em 3 pedaços.

Fagorn prendia a respiração, num misto de medo e excitação, com o que estava prestes a ocorrer. A fraca iluminação do celeiro permitia ver uma grande silhueta à porta, que lentamente adentrava ao lugar. Um cavalo branco, ornado com armaduras de guerra, douradas e reluzentes, marchava celeiro à dentro. Um poderoso garanhão, como o jovem jamais avistara, forte e imponente, trilhou seu caminho até aproximar-se de um monte de feno. Ali, ajoelhou e em seguida se deitou.

Os olhos de Fagorn moveram-se pairando sobre cela do belo animal, onde estava desfalecido, um cavaleiro. Um grande guerreiro, usando uma armadura prateada e reluzente, porém manchada do que parecia ser sangue deixava, lentamente, seu corpo cair da cela, deitando-se sobre o feno. Em seguida, o sagaz equino, levantou-se e foi até a grande porta, tentando encosta-la, possivelmente pra evitar o frio de entrar.

De longe, o aprendiz apenas observava tudo, sem mover um único músculo. Aquilo tudo estava muito além do que poderia compreender e isso o deixava ainda mais curioso, suprimindo seu medo. Então, num ato de coragem, ou de insanidade, deu um salto, pondo-se de pé e correu até a porta. Fora em direção a outro caibro, disposto em uma estante lateral, que pudesse substituir aquele que estava partido, para conseguir fechar a porta.

Assim que notou Fagorn, o poderoso garanhão virou-se para ele, preparando uma investida. Só então o aprendiz parou e pensou na possível estupidez que fizera, expondo-se daquela forma. Agora, estava frente a frente com o mais belo, porém amedrontador cavalo que já conhecera. Não haveria tempo para fugir ou tentar uma manobra de esquiva, seria atingido em cheio e sem chances para defesa.

Sem muitas alternativas, o jovem encarou o animal e ele fizera o mesmo, mantiveram-se assim por alguns instantes até que o cavalo de guerra afastou-se, sem qualquer reação ofensiva. Por mais alguns segundos o aprendiz permaneceu estagnado, sem respirar, até que uma forte e fria rajada de vento e chuva adentrou ao celeiro, açoitando seu rosto e libertando-o do transe. Só então pode concluir o que quisera, fechando novamente a porta e selando-a com o novo caibro.

Quando seu olhar se voltou ao cavalo novamente, ele estava deitado ao lado daquele que o montara. Os olhos do animal se mantinham em Fagorn, porém não mais com semblante de batalha e sim de curiosidade. Além de magnífico, o equino fora brilhantemente treinado, possivelmente por aquele que ali estava desfalecido. E como se estive diante de sua própria cria, vigiava com todo zelo seu cavaleiro.

Lentamente, o jovem aprendiz caminhou até onde estava cavaleiro e seu cavalo. Este segundo continuava acompanhando-o com o olhar, sem nenhuma reação, enquanto Fagorn se aproximava. Lá chegando, pode vislumbrar o grande cavaleiro, a grandiosidade de sua armadura e a gravidade de seus ferimentos.

A armadura prateada, reluzente, que podia refletir o movimento de cada chama acessa nas tochas daquele lugar, estava manchada pelo sangue que advinha de um corte profundo, próximo a axila esquerda. O espaço vulnerável da armadura, onde não havia placas, fora perfurado por um golpe poderoso de lança ou de uma grande espada. Os hematomas no rosto e as muitas marcas de golpes no restante da armadura, contavam a história de uma batalha travada, quase até a morte, que deixou o guerreiro naquele estado de quase morte.

Movido por sua compaixão, Fagorn afastou-se do cavaleiro e correu até um velho armário de madeira, mantido no celeiro, onde ficavam algumas mantas e itens de primeiros socorros. Quase tudo ali é para uso nos animais que serviam nos trabalhos do campo, mesmo assim podiam ser úteis, nas mãos certas. Mesmo muito jovem, o aprendiz tinha habilidade para fazer curativos ou medicar pequenos ferimentos. Passara muitos dias ajudando o curandeiro local e fazia isso de bom grado. Então, após apanhar alguns itens que julgou útil, correu novamente até o guerreiro caído.

Com muita dificuldade, Fagorn removera a parte superior da armadura do guerreiro e o que pode ver foi um corpo marcado pela dor e pelo sofrimento. Não havia um único local sem uma cicatriz ou um hematoma. Seja lá o que aquele guerreiro tivesse feito, deixou muitas pessoas descontentes.

O corte, próximo a áxila direita, tinha a largura de quatro dedos e havia rasgado a carne e os músculos do local. O aprendiz limpou a ferida com um mistura de água com um liquido de cheiro forte e que provocava certa ardência, porém excelente para remover todo tipo de sujeira e impurezas. Esse processo provocou alguns gemidos do guerreiro.

... ao menos está vivo...


Em seguida, aplicou uma pasta de ervas, usada em ferimentos de cavalos para conter a infecção e ajudar na cicatrização. Nos animais, o efeito era sempre muito positivo. Por último, cobriu o cavaleiro com uma grande manta, deixando apenas cabeça e o local o ferimento de fora, assim manteria seu corpo aquecido e a ferida bem ventilada.

Quando Fagorn terminou, com as mãos e roupas bem sujas de sangue, pode ouvir um murmúrio vindo do guerreiro, que mal conseguia abrir os olhos. Dentre as palavras proferidas e forma trêmula e rouca, pode discernir.

– Obrigado, meu filho...


Aquele singelo agradecimento, acalmou a alma do jovem aprendiz, que se levantou e foi se lavar e um balde que já transbordava de água da chuva, aparada de uma goteira. Depois de remover o sangue de suas mãos, subiu até a parte mais alta do celeiro, levando consigo uma manta. Resolveu dormir ali mesmo, para pela manhã, avisar um de seus mestres sobre o que havia acontecido. A excitação pelo que aconteceu e a ansiedade pelo que viria com o amanhecer o manteve acordado por mais algum tempo, até que seu sono, embalado pelo barulho da chuva venceu o Fagorn finalmente adormeceu.

...

Nota do autor:
Acredito que a apresentação de personagens de uma aventura, vai além sua origem e seus atributos físicos. Gosto de embasar seu comportamento e o modo como é visto pela sociedade que o cerca com acontecimentos de sua vida. Isso, em minha opinião, aproxima o leitor de cada um dos personagens aumenta seu envolvimento com a aventura.

2 comentários:

  1. Acada paragrafo mais perguntas...
    É impossível não ficar curioso pela continuação!!! :P

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