quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Crônicas Cinzentas - O Bardo [Parte Final]

Naquela noite, após uma apresentação digna de ser vista por reis, Dudu caminhava apressado pelas ruelas de um vilarejo próximo a Pedra Cortada, quando um grito feminino e agudo pode ser ouvido, vindo um beco escuro. Como nunca fora um herói por natureza, aliás alguns o apontariam, antes daquele dia, como desprovido de qualquer coragem, seu instinto o impelia em correr o mais rápido possível. Talvez procurasse ajuda posteriormente, mas primeiro precisava salvar a própria pele.

Não tenha este como um pensamento mesquinho. É preciso estar a um passo do inimigo para desejar estar o mais longe dele e somente diante o do perigo é possível entender esse tipo de reação. Contudo, naquele dia, o instinto de sobrevivência deu lugar a outro tipo de sentimento. Enquanto passava pela entrado do beco, pode ver a doce e ruiva donzela, quase que de relance, tentando se levantar do chão, quando era golpeada novamente por um guarda e caia desacordada. Aquela visão de pouco mais de dois segundos, foi o suficiente para fazê-lo parar de forma abrupta.

Queria correr, sair dali o mais rápido possível. Pensou que o medo intenso o teria deixado paralisado, afinal não seria a primeira vez, mas não. Desta vez era um sentimento nobre que o instigava a fazer algo. E então assim, sem pensar, tomado por um impulso frenético, de um sentimento totalmente novo, giro sobre os pés, dando meia volta, e partiu, sem qualquer tipo de controle raciocínio lógico, em direção do beco e em seguida do guarda que golpeou a pobre dama.

Visto de longe, a cena seria no mínimo curiosa, de um homem enlouquecido, sem grandes atribuições físicas, correndo em direção de um soldado armado começava a arrastar o corpo inerte de uma mulher.
Cheio de coragem, algo que intitularia como “sangue nos olhos” e muita vontade, além de nenhum bom senso, Dudu sequer conseguiu ver o que acontecera, parando somente ao esbarrar em seu alvo e cair no chão a pouco mais de dois metros dele. Por alguns segundos, atordoado, apenas pode ouvir alguém esbravejando. Quando conseguiu enxergar novamente, vira o guarda que esbarra levando-se, com a ajuda de um companheiro. Sim meu amigo, havia dois guardas ali e com olhares nada amistosos voltados para o bardo.

O turbilhão de ideias, envolvidas em um sentimento de pânico quase incontrolável, tomavam conta do artista da flauta doce, enquanto observava os guardas, já com armas em punho, vindo em sua direção. Em uma fração de segundo, por puro instinto, lembrou-se de um truque que aprendera logo que chegou ao reino da Rocha Branca. Consistia basicamente em iludir seus agressores com uma espécie de som fantasmagórico, iludindo suas mentes com algo que não existia. Assim sendo, de fora do beco, vozes foram ouvidas:

- Vamos homens, Dudu deve estar por aqui!

Um eco que simulava uma multidão acompanhou a frase. Era como se pelo menos vinte pessoas estivessem vindo. Estalidos de metal e armas também puderam ser ouvidos, então seriam guerreiros armados. A voz trêmula e amedrontada do bardo, respondera com um pedido que fora convincente.

- Aqui amigos. Estou aqui nesse beco. Ajudem-me.

Antes que pudesse ver qualquer coisa, um dos guardas virou-se e pôs-se a correr. Com certeza o que estavam fazendo ali não era licito, então não seria nada bom se o pegasse. O outro, entretanto parecia desconfiado e mesmo com o truque tendo seu efeito, partiu em uma investida, desferindo um potente golpe de espada contra Dudu.
O bardo virava-se tentando de forma infantil, proteger-se com as mãos nuas. Já podia sentir a dor da lâmina, enquanto essa rasgaria seu pescoço, em um movimento bruto e sem piedade. Porém um brilho forte como o de uma chama branca foi tudo que vira e o sentimento que esperava de dor fora frustrado.

Depois de alguns segundos, quando notou que não foi atingido, espiou por entre os dedos e pode ver o guarda caído, com algumas marcas avermelhadas próximo ao queixo. Seu olhar, por um instante voltou a mulher dos cabelos de fogo, que estava próxima a ela. Ela estava de olhos abertos, com uma das mãos apontadas para aquele guarda, como um último sinal de esforço, antes de desfalecer novamente.

Sem entender o que havia acontecido e consciente de que ainda estava vivo, porém nada seguro, Dudu levantou-se, sacodindo a terra de suas roupas e quase que por instinto, apanhando a mulher e a colocando apoiada em seus ombros. Na verdade, inicialmente tentou carrega-la, mas o uso na flauta não havia lhe dado muitos músculos e por isso não foi capaz.
Já estava amanhecendo, por isso o músico se apressou, andando pelos cantos das ruelas ainda sem praticamente nenhuma alma circulando, até chegar à estalagem onde passaria a noite.

- Ela bebeu demais.

Estas foram as palavras do bardo para a dona da estalagem, quem sem olhar direto para ele, como se aquilo fosse comum entre os bardos, respondeu enquanto o levava até o quarto.

- Certo, apenas evite fazer muito barulho.

Com um sorriso amarelo e com as bochechas coradas o bardo adentrou a quarto e colocou a mulher na cama. Os olhos deles, mesmo sem perceber percorreram toda a mulher, mesmo sem querer. Ela tinha um tipo mais esguio, com o rosto um pouco mais fino.

- Meu Deus... Um Elfo? Quer dizer, uma Elfa, sei lá.

A frase escapou pelos lábios de Dudu, quando conseguiu prestar atenção às orelhas protuberantes daquela mulher. Que na verdade, não eram assim tão protuberantes, quanto de um elfo que conhecera em outro vilarejo mais ao sul. Ainda assim, aquilo o manteve acordado por mais quase por varias, até que o cansaço da viajem e do longo tempo sem dormir o venceram e ele dormiu sentado, à beira da cama.

2 comentários:

  1. O amor está no ar heheh
    Quem diria heim.. um bardinho desse largar um mundo de aventuras por uma elfa.. não se fazem mais bardos como antigamente heheheh

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  2. A verdade está na cabeça de quem conta a história. hehehehe

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